Aqui está uma imagem que deixa
qualquer amante de livros simplesmente em delírio. E sabem a quem pertence esta
estante de invejar? Pois bem, esta é, apenas, parte da coleção pessoal de livros
da escritora convidada de Setembro, do 100% Fantasy: Carla
Ribeiro.
Com apenas 27 anos, a Carla conta
com a publicação de mais de uma dezena de obras individuais, e ainda com várias
parcerias com outros escritores e participações em antologias literárias.
A Carla é ainda a administradora
de diversos blogs, dos quais se destaca “As Leituras do Corvo”. Blog de referência
no mundo literário nacional, sendo as suas críticas mencionadas por
prestigiadas editoras.
Da extensa lista de publicações fazem parte títulos como: Herdeiros de Arasen, Canto da Eternidade, O Deus Maldito, e Senhores da Noite.
O 100% Fantasy
chegou à conversa com a Carla Ribeiro, que prontamente nos concedeu uma
entrevista.
Entrevista
Começaste
a escrever com apenas 14 anos.
O
que escrevias e em que é que te inspiravas nessa altura?
Eu penso nos 14 anos como o início de tudo, porque
foi o meu ponto de viragem. Já me sentia puxada para a escrita antes e já tinha
feito algumas coisas, mas foi por essa altura que comecei a viver a sério o
impulso da escrita, a vê-la como o meu refúgio e a minha compulsão. Também foi
nessa altura que comecei a participar em iniciativas, a mostrar os meus textos
a pessoas mais ou menos próximas, a ponderar projectos concretos. Comecei a
escrever pequenos contos, mais ou menos fantasiosos – e, sim, alguns eram um
pouco improváveis. E poesia. Muita poesia. Mas essa é uma companheira que me
segue – ou que sigo? – desde sempre.
Sabemos
que arrecadaste prémios em vários concursos literários em Portugal e no
Brasil.
Lembras-te
do primeiro prémio que ganhaste?
Lembro-me dos primeiros, sim. Ainda tenho uma
memória particularmente vincada do prémio Douro Leituras e de ter de escolher
material num determinado valor – livros, cds, tecnologia – e da experiência que
foi receber uma caixa enorme cheia de livros. Isto no tempo em que a minha
biblioteca pessoal era pequenina. E lembro-me daquela emoção especial de sentir
algum valor para as minhas palavras, para além do que tinham para mim. Foi, e
continua a ser, um imenso conforto e um grande estímulo.
Numa
entrevista ao Blog Morrighan, em 2010, eleges como Mestres, Edgar Allen Poe e
William Shakespeare, e como inspirações mais contemporâneas, Anne Bishop e
Marion Zimmer Bradley.
Qual
ou quais as tuas obras favoritas?
Ah, é complicado escolher obras favoritas,
quando há tantos livros que amo e que gostaria de referir. Mas, e para que os
leitores não se cansem de mim, vou limitar-me aos mestres de então, e a mais
algumas leituras marcantes. De Poe gosto de tudo, mas tenho um carinho especial
pelo conto The Masque of the Red Death. Tem tudo o que eu aprecio numa
história. De Shakespeare, tenho de destacar uma das peças menos citadas, mas
que nunca deixa de me impressionar, Titus Andronicus. Anne Bishop é a minha
autora favorita e tudo o que seja do mundo das Jóias Negras tem um lugar
especial no meu coração. E da Marion Zimmer Bradley é inevitável citar As
Brumas de Avalon. Mas a estes livros de sempre, gostaria de acrescentar outros
favoritos incondicionais, como a saga Kushiel, da Jacqueline Carey, A Dança de
Pedra do Camaleão, do Ricardo Pinto – ainda me parte o coração lembrar-me de
alguns momentos dessa trilogia! – e a trilogia A Árvore do Céu, da Edith
Pargeter. Todos estes foram livros que me falaram à alma. E que me fazem sentir
pequenina ante a mestria dos seus autores.
O
teu primeiro livro “Estrela Sem Norte” foi publicado em 2005, pela Corpos
Editora.
O
que sentiste no momento em que tiveste o teu primeiro livro nas mãos?
É mágico. Olhar para ele, tocar a capa, as
páginas. Olhar outra vez e pensar “Está aqui. Fui eu. É meu. Está mesmo aqui”.
Não há outra forma de o descrever, para mim, senão como uma magia maravilhosa.
O
teu mais recente livro intitula-se “Senhores da Noite” e foi publicado em 2010
pela Fronteira do Caos.
Fala-nos
um pouco sobre esta obra.
Bem, o Senhores da Noite é um caso muito
particular no meu imaginário. É que eu tenho uma tendência especial para me
sentir atraída por personagens do lado dos bons – heróis, mártires, inocentes
injustiçados, gente deste género – e isso reflecte-se no que eu escrevo. O
Senhores da Noite nasceu da ideia de contrariar esta tendência. Quis criar uma
história em que não houvesse heróis e vilões, mas simplesmente um cenário de
conflito e, em certa medida, a luta pela sobrevivência do mais forte. Daí
nasceu esta história, que quis que fosse sombria, mas, mesmo assim, com sinais
desse tal carácter que me atrai.
Tens
obras publicadas em géneros distintos: poesia, fantasia, contos…
Existe
alguma linha que seja transversal a todos os teus trabalhos?
Não lhe chamaria propriamente uma linha. Mas
escrevo de acordo com o que me fala ao coração e isso implica que o que sou e o
que sinto se reflicta nas minhas palavras. Isso acaba por criar pontos em
comum, de ambientes, de expressões, de traços de personalidade que se insinuam
numa personagem. E isso está presente, independentemente do género em que estou
a escrever.
Dizes
ter uma ligação emocional muito forte com as histórias que crias.
Esse
apego emocional já alguma vez te fez mudar o destino que tinhas previamente
traçado para uma personagem ou grupo de personagens?
Normalmente, não acontece. Tendo em conta a
tal tendência que eu tenho para heróis e mártires, não é muito provável que eu
venha a poupar uma personagem, por mais que isso me parta o coração. E parte,
às vezes, quando, na minha cabeça, vivo a vida da personagem como se fosse
minha. Mas pequenas mudanças de percurso… Isso sim, tende a acontecer. Há
alturas em que parece que eles ganham vida. E a história vai para onde tem que
ir.
Como
é a tua relação com os teus fãs?
Discreta.
Quem me conhece sabe que eu sou um pouco insegura e é preciso muito pouco para
condicionar os meus estados de espírito relativamente à escrita. Por isso,
normalmente não acompanho muito as opiniões que vão surgindo, a não ser que mas
façam chegar directamente. Mas ando por aí, por esse cibermundo fora, e estou
sempre disponível para satisfazer a curiosidade de quem quiser saber mais sobre
as minhas histórias.
Como
descreverias “O mundo Carla Ribeiro”?
Um lugar estranho. Com muitas histórias por
contar, muitos lugares inesperados e algumas pessoas imaginárias interessantes
para conhecer. Ah, e também um mundo de musas erráticas, silêncios interiores e
alguma esperança. Sempre alguma esperança.
Projetos
para o futuro?
Acabo
de sair de um hiato de alguns meses sem escrever e de uma percepção renovada de
que não sou eu sem contar as minhas histórias. Por isso, projectos não me
faltam. Estou a trabalhar num novo romance, tenho um conjunto de contos
terminados a que gostaria de acrescentar mais alguns e um outro romance – e
alguma poesia – na gaveta. Planos de publicação? Não é coisa que esteja apenas
nas minhas mãos. Não sei o que virá. Mas quanto ao resto, o plano é recuperar o
tempo perdido e regressar em força à escrita
O 100% Fantasy agradece a disponibilidade da Carla e
deseja-lhe muito sucesso.
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